Thursday, July 19, 2007

Pitacos Renânicos

Em Defesa do Equilíbrio


Renan B. Fernandes



Antes de tudo, quero contar uma história. É a história de como me envolvi nos debates entre “criacionistas” e "evolucionistas" no orkut.

Quando entrei no mundo virtual, descobri milhares de pessoas que pensavam como eu, que compartilhavam das minhas opiniões. E, também, encontrei uma pluralidade imensa de idéias. Porém, descobri uma infinidade de pessoas que não acreditavam na Teoria da Evolução das Espécies. Sinceramente, para um menino de Ensino Médio, nunca pensei haver tanta gente que desacreditasse uma idéia, para mim, tão simples. Mas logo fiquei fascinado pelos debates e pela quantidade de informação disponível neles; eram dezenas de sites, estudos, textos de diversas áreas do conhecimento, enfim, um monte de ciência que nunca sonhei existir. Apaixonei-me e caí de cabeça nas discussões. Não demorou muito para que eu começasse a estudar para participar eu mesmo dos debates, pois queria refutar os “criacionistas” com meu próprio suor.

Mas, apesar de ser “evolucionista” e saber claramente que evolução é fato e criacionismo é mito, devo dizer que minha paixão me cegou. Por mais nobre que seja uma idéia, podemos pervertê-la se a passarmos da maneira errada. E é exatamente isso que está ocorrendo: estamos passando o conhecimento de maneira completamente equivocada. Basta ler as discussões entre “evolucionistas" e “criacionistas” para entender o que eu digo.

O que era para ser uma discussão rica, na verdade se tornou uma massagem de egos. Não é raro ver “criacionistas” chamados de burros, não é incomum ver tiragem de sarro em muitos deles, que, na maior parte das vezes, o são por inocência. Não é raro ver uma discussão rapidamente se tornar uma guerra de egos. Enfim, é muito comum ver ataques despropositados e muito raro ver discussões sérias.

Lembrando que estou desconsiderando aqueles “criacionistas” que o são por oportunismo, porque sabem que estão errados, mas é conveniente enganar o povo. Estou desconsiderando também aqueles que não dão nem ouvidos àquilo que é postado, que simplesmente se fecham e não escutam o outro lado. Estou falando daqueles que muitas vezes chegam inocentemente, na ignorância, pois sempre aprenderam uma coisa e querem discuti-la, mas são recebidos com paus e pedras.

Traçado esse panorama das discussões, quero alertar para o grande problema que isso pode causar. Estou escrevendo este artigo em defesa do EQUILÍBRIO. E, naturalmente, não posso discorrer sobre esse assunto sem citar Richard Dawkins, pois ele é o cúmulo do desequilíbrio. Não vou lembrar de nenhum radical religioso, pois esses são nossos velhos conhecidos. Vou citar Dawkins justamente por ser, como eu o considero, um ateu e “evolucionista” radical. O outro lado da moeda. E deixo bem claro que não o considero radical por ser ateu ou “evolucionista”, pois sou também “evolucionista” e agnóstico, mas pela forma como expõe suas idéias. Exatamente como as discussões são conduzidas nos fóruns de orkut.

Dawkins é contra a religião. Qualquer uma de suas palestras ou vídeos são feitos de ataques e ataques (muitos deles com razão, é verdade). Agora, caro leitor, coloque-se no lugar de um religioso, que viveu a vida toda cercado de dogmas e que nunca foi ensinado a questionar. Toda a sua verdade está na religião e isso bastava para ele. Porém, essa pessoa encontra um grupo que ataca as bases de suas crenças ferozmente; muitas vezes sem respeito ou pudor. Atacando os religiosos e “criacionistas” da maneira como descrevi, céticos e “evolucionistas” parecem tão radicais como os crentes. E é ai que mora o perigo, pois o “criacionista” vai enxergar o evolucionismo (e a ciência) como outro dogma; e dogma por dogma, ele fica com o dele.

Aqui mora o centro da questão. Não podemos, em hipótese alguma, passar o conhecimento de forma dogmática, pois então estaremos nos igualando aos pseudo-cientistas e aos religiosos radicais. RADICALISMO NÃO SE COMBATE COM RADICALISMO. Radicalismo se combate com paciência e métodos. Dia após dia, um a um, devemos expor o conhecimento de forma gradual, mostrando que ele não é dogmatismo, mas que se opõe à atitude dogmática.

Então, caros amigos “evolucionistas” que se enxergam nas situações citadas acima, cuidado com seus atos. Por mais nobre que seja uma idéia, volto a repetir, é fácil distorcê-la se não soubermos passá-la adiante. Digo mais uma vez que radicalismo não se combate com radicalismo. Não nos igualemos ao que tentamos combater; não deixemos que a soberba, a arrogância e a egolatria se apoderem de nós.

Para finalizar e sintetizar, como não poderia faltar, cito Voltaire: "Posso não concordar com nenhuma das palavras que você diz, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las." Cito também Nietzsche: "Eu jamais iria para a fogueira por uma opinião minha, afinal não tenho certeza alguma. Porém, eu iria pelo direito de ter e mudar de opinião, quantas vezes eu quisesse."

É por essas e outras que sempre defenderei o EQUILÍBRIO. Sempre.

Labels: ,

0 Comments:

Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]

<< Home